terça-feira, 8 de janeiro de 2013

[Review] Asterios Polyp | David Mazzucchelli

Asterios Polyp é um arquiteto de renome dentro do meio acadêmico. Seus trabalhos teóricos e os prêmios advindos dele o credenciaram a se tornar professor catedrático de uma prestigiada universidade no interior dos EUA. 

No seu aniversário de 50 anos, somos apresentado a um Polyp depressivo e solitário e que, durante uma tempestade, tem seu apartamento incendiado por um raio. Ele então decide ir para o lugar mais distante que  o dinheiro em seu bolso permitir, na esperança de começar uma vida nova.

Comentários | Asterios Polyp é uma graphic-novel lançada em 2009 pela Pantheon Books, que em 2011 ganhou uma edição brasileira pela Quadrinhos na Cia. Ganhadora de vários prêmios Eisner e Harvey, entre eles na categoria "Melhor Graphic-Novel" e "Melhor Escritor", o álbum é o trabalho da vida de Mazzucchelli (desenhista dos clássicos Demolidor: O Homem Sem Medo e Batman: Ano Um), demandando 10 anos de trabalho árduo. Ele é responsável por tudo aqui: argumento, desenhos, arte-final e cores. O resultado é uma obra tecnicamente irrepreensível e artisticamente inspirada. Uma obra-prima.


Usando de conceitos gráficos muito pouco explorados, Mazzucchelli foi extremamente inventivo no que tange ao contar sua história. O modelo clássico de justaposição de quadrinhos é aqui relativizado, sendo comum a utilização de quadros abertos cheios de conteúdo sem uma aparente divisão. 

As metáforas visuais são usadas aqui com frequência. O que poderia ser interpretado normalmente uma arte tosca e primária, aqui é claramente utilizado como um recurso visual excelente, muito bem relacionado com a trama em si. Por exemplo, nas passagens em que Asterios está em conflito, seu desenho ganha uma forma tétrica e transparente. Durante a obra, diversas abstrações são realizadas como recurso narrativo.

As cores também cumprem um papel muito importante na obra. Apesar de monocromático em sua maior parte, a narrativa se apoia bastante na cor, enchendo-a de significado. É bastante clara a sua função nas cena de discussão entre Asterios e Hana, contudo há inserções mais sutis, mas tão decisivas para a compreensão quanto àquelas. As cenas do passado são de tom mais azulado, as do presente ganharam tons amarelados e às passagens oníricas tem a cor roxa como predominante.

Durante a leitura da obra é preciso se ficar tão atento na narrativa gráfica e o que ela transparece, quanto aos seus diálogos. Trata-se de um todo coeso que se inter-relacionam, não podendo um ser apartado do outro. Ainda assim, Mazzucchelli nos concede diversos níveis de leitura, desde a mais superficial quanto àquela mais detalhada e ligada às sutilezas. E elas são inúmeras, fazendo que uma segunda leitura da obra seja mais do que recomendada para a apreensão satisfatória do enredo.

Não é somente a parte técnica que impressiona, a história criada por Mazzucchelli é envolvente e bastante reflexiva. Não há como o leitor não se envolver com a trajetória de Polyp, que apesar de cheio de defeitos e vícios, chega a ser bastante carismático, sobretudo enquanto se relaciona com Hana (o seu oposto imediato).

No fim, percebemos que chegamos ao fim de uma viagem em que discutiu-se diversos temas importantes, (como família, arte, relacionamento, vida social/individual etc.) sem, de forma alguma, chatear o leitor ou parecer pedante. Não há garantia de que o final agradará a todos, contudo não há que se discutir que ele se casou muito bem com o que a trama apresentou até então.

Asterios Polyp
***** (9,5)
Pantheon Books | julho de 2009
Quadrinhos na Cia. | outubro de 2011
Roteiro e Arte: David Mazzucchelli
Tradução: Daniel Pellizzari

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