sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

[Review] Minha Vida | Robert Crumb

Se você chegou até aqui, então Robert Crumb deve dispensar maiores apresentações. Mas se você ainda não sabe muito sobre esse grande desenhista, basta ler  Minha Vida, seu álbum autobiográfico, para conhecer a fundo as principais fases de sua vida e carreira. O leitor de primeira viagem, contudo, fique de sobreaviso, pois o primeiro contato através desse álbum pode ser chocante.

Mais do que em qualquer outro álbum seu publicado no Brasil, em Minha Vida Crumb desfila todo o seu estilo sinistro e bizarro que lhe rendeu a fama de maior expoente dos quadrinhos underground americano. 

O álbum alterna passagens em forma de quadrinhos, em que o próprio Crumb é o seu personagem principal, e outras em que ele próprio conta, textualmente, alguns momentos importantes de sua vida. É aí que talvez esteja a maior qualidade do álbum, pois o estilo despojado e sincero peculiar de sua arte, também é usado no seu modo de contar sua vida, proporcionando muitas risadas e reflexões. 

Seu início de carreira, as experiências com drogas, o conflito com o entretenimento de massa são alguns pontos abordados em seus textos. Crumb realmente não fez concessões quando decidiu colocar sua vida no papel. Não deixou de colocar os momentos embaraçosos, ridículos ou depreciativos de sua vida. Realmente, o seu modo de escrever e desenhar não comporta autoindulgência nem moralismos. Ele não omitiu de contar sobre época em que era usuário de LSD, suas aventuras sexuais e divagações em geral, que evidencia todo os seus vícios, bem como os conflitos de consciência que decorrem disso tudo. Ele não espera a compreensão do leitor, muito menos espera sua aprovação.


A arte em si está está ótima. Crumb possui um estilo despojado, ligado ao cartum, e ainda assim consegue ser preciso, quase sempre detalhista. No aspecto narrativo, contudo, Minha Vida se mostra bastante irregular, alternando momentos enfadonhos e outros bastante interessantes, especialmente na parte em que fala de sua crise de meia-idade.

No início afirmei que a edição é ótima para conhecer mais sobre Crumb, contudo ela não é a mais indicada para o neófito. Para aquele que quiser se começar a conhecer a sua obra, é indicado que a leitura comece por álbuns como Fritz, The Cat e Zap Comix (ambos já lançados pela Conrad), que, por coincidência ou não, compilam trabalhos da fase inicial do autor. Se o leitor não tiver alguma bagagem sobre alguns dos trabalhos anteriores de Crumb, corre-se o risco que a edição não seja apreciada completamente.

Robert Crumb, certamente, não é para todo mundo. O seu humor negro, sarcástico e sem barreiras pode encontrar muita resistência em alguns apreciadores de quadrinhos. Mas para os fãs de sua obra, o álbum é obrigatório tanto para conhecer mais da mente por trás do traço quanto para conhecer alguns materiais raros do autor.

Minha Vida
**** (7,0)
Conrad | 2010 (2ª edição)
Roteiro e Arte: Robert Crumb

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