domingo, 17 de março de 2013

[Tirando o Pó da Coleção] Surfista Prateado | Stan Lee e Moebius

É isso mesmo. Stan Lee e Moebius já trabalharam juntos com um dos personagens mais queridos da Casa das Ideias, resultando numa graphic-novel lendária, com uma das melhores da história. Inexplicavelmente a história mereceu apenas essa publicação da Abril no longínquo ano de 1989 que agora tiraremos o pó. Ou seja, história que está merecendo uma republicação há tempos. No início do ano saiu nos EUA, onde a história saiu originalmente em 1988, a republicação da edição, emplacando o quarto lugar no ranking de vendas de edições especiais.

A Abril lançou Surfista Prateado dentro da sua clássica série Graphic-Novel, coleção que juntou diversas obras renomadas nos quadrinhos, em que se presava pela qualidade editorial diferenciada e pelo bom gosto dos títulos. Além de Moebius e Stan Lee, nessa série foram reunidos profissionais do calibre de Will Eisner, Frank Miller, Alan Moore e Mike W. Barr. Maiores informações sobre a série Graphic-Novel podem ser conferidas no artigo de Marcelo Naranjo para o site Universo HQ. Agora atentaremos exclusivamente a Parábola, nome dado a essa história criada pela minha equipe criativa dos sonhos.

A ideia da parceria partiu do próprio Moebius durante um encontro com Stan Lee, assim como a escolha do Surfista Prateado como personagem principal. Ele incorpora uma veia mais filosófica em suas aventuras, dado que é um desafio para ele compreender a natureza humana, tão complexa e contraditória. Essas informações (além de outros detalhes sobre a produção do álbum) estão todas no prefácio escrito por Stan Lee, bem como no posfácio de Moebius.

De modo a explorar a genialidade de Moebius, Stan Lee criou uma aventura diferenciada, mais reflexiva e adulta, antagonizada por Galactus, um dos vilões mais tradicionais da Marvel e umbilicalmente ligado às origens do Surfista. A origem clássica do herói revela que ele era o arauto de Galactus, O Devorador de Mundos até este se voltar contra a Terra. Comovido com o espírito guerreiro do Quarteto Fantástico que não abandonou a luta, apesar dela já estar perdida, o Surfista se voltou contra o seu mestre e o expulsou do planeta.

Mas os humanos pouco se sensibilizaram. O Surfista começa Parábola caído na marginalidade e amargurado com a inconstância da natureza humana, que é acentuada com a chegada de Galactus. O caos logo se instala e as pessoas se desesperam. Se aproveitando dessa fragilidade, um líder religioso coloca Galactus como seu Deus e ele como o único mensageiro.

O interessante nessa história é conferir a maneira como Stan Lee lida com o fanatismo religioso e como a  sua radicalização é perniciosa para a sociedade. Em momentos de fraqueza, os homens logo procuram um redentor, alguém que possa lhes liderar e proteger do desconhecido. Vozes dissonantes da maioria tendem a ser reprimidas e tudo que possa questionar a fonte de poder, deve ser extirpado. Em Parábola, essas questões são postas no contexto da religião. Mas não é difícil fazer um paralelo com a sociedade e como em períodos de exceção em geral.

Stan Lee privilegiou abordar mais os conflitos filosóficos e morais nascidos com a chegada com Galactus do que precisamente retratar a batalha frontal entre ele e o Surfista. Moebius no posfácio presente na edição da Abril confirma a intenção: "Tenho certeza de que algumas pessoas prefeririam mais ação, mas eu, particularmente, acho mais interessante ver a revista em quadrinhos sob um ponto de vista filosófico". Esse é o grande diferencial da obra de Stan Lee e Moebius: sua história transcende o gênero de super-heróis e aproxima o leitor.

Lançado originalmente em dois volumes, Surfista Prateado ganhou o Eisner de Melhor Série Limitada em 1989, repetindo o feito de Watchmen no ano anterior.


Surfista Prateado - Parábola
**** (8,0)
Marvel | 1988-1989
Abril | maio de 1989
Roteiro: Stan Lee
Arte: Moebius

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